Brabham BT45 é considerado um dos mais belos da F1, mas foi um fracasso nas pistas 2y1h3e
Dirigido pelo brasileiro José Carlos Pace, modelo fez história na Fórmula 1 e estrelou filme com o astro Al Pacino 4b5e6p

Nos anos 1970, a Fórmula 1 vivia uma época de inovações técnicas significativas e o favoritismo no Mundial de Construtores estava dividido entre Ferrari, McLaren e Lotus, com os pilotos dessas equipes alternando-se nas primeiras posições.
Nesse cenário, a temporada de 1975 foi marcante, pois, apesar da brilhante conquista do piloto austríaco Niki Lauda, a grande surpresa foi a equipe inglesa Brabham, que alcançou um excelente segundo lugar no Mundial de Construtores, superando a supremacia das equipes favoritas e ficando atrás apenas da campeã Ferrari.
Os carros Brabham BT44B, nas cores icônicas da marca italiana de bebidas Martini, equipados com motores Ford Cosworth de oito cilindros, foram pilotados pelo argentino Carlos Reutemann e pelo brasileiro José Carlos Pace, o “Moco”, que terminaram o Campeonato de Pilotos de 1975 na terceira e sexta posições, respectivamente.

Na temporada seguinte, o sonho de conquistar o Mundial parecia mais próximo para a Brabham. O então chefe da escuderia inglesa, Sir Bernie Ecclestone, imaginou que, se o BT44B havia garantido um segundo lugar para a equipe, um carro com características semelhantes, porém equipado com um motor mais potente, teria chance de superar a campeã Ferrari e conquistar o Mundial de 1976.
Com um novo chassi projetado para aproveitar as mudanças do regulamento que concediam maior liberdade técnica, e equipado com um motor de 12 cilindros em V, fornecido pela Alfa Romeo, o engenheiro da equipe, Gordon Murray, desenvolveu o Brabham BT45.

Assim como o seu maior rival nas pistas, o Brabham BT45 também era vermelho, porém era adornado com faixas em tons de azul da equipe Martini Racing. O carro foi projetado com um chassi monocoque de alumínio de 4,38 metros de comprimento, peso aproximado de 595 kg, suspensão com braços duplos e molas helicoidais acionadas por hastes sobre amortecedores, transmissão manual de seis marchas e um motor central longitudinal que gerava 500 cv de potência e alcançava a máxima de 305 km/h.
No projeto original, além das duas entradas do radiador na dianteira, o pesado motor Alfa Romeo modelo 115-12, que atingia 11.500 rpm, era refrigerado por duas entradas de ar esguias posicionadas nas laterais do carro, semelhantes a barbatanas de tubarão. O Brabham BT45 foi, sem dúvida, um dos carros mais belos da história da Fórmula 1. No entanto, a expectativa de que o carro seria um grande sucesso nas pistas foi um engano.

A primeira participação do Brabham BT45 no circo da Fórmula 1 foi no Grande Prêmio Brasil de 1976, quando o piloto argentino Carlos Reutemann, no carro número 7, terminou a prova em 12º lugar, enquanto o brasileiro José Carlos Pace, com o número 8, chegou em 10º.
Ao longo de toda a temporada de 1976, o carro enfrentou diversos problemas técnicos e não concluiu a maioria das provas. As entradas de ar laterais do projeto original eram insuficientes para resfriar o motor e precisou ser redesenhada inúmeras vezes no decorrer da temporada.
Desiludido com os resultados, o piloto Carlos Reutemann decidiu trocar a Brabham pela Ferrari antes do final do campeonato, após ter cruzado a linha de chegada em apenas 3 das 12 corridas de que participou. O argentino foi substituído pelo australiano Larry Perkins, enquanto Moco assumiu o posto de primeiro piloto da equipe. O piloto brasileiro concluiu apenas 9 das 16 provas do campeonato de 1976, mas, mesmo sem ter conquistado resultados expressivos, continuou na equipe para a temporada seguinte.

A belíssima aparência do BT45 não condizia com o seu desempenho nas pistas. Entretanto, isso não impediu que o carro estrelasse um filme de Hollywood, com o astro americano Al Pacino, ainda no começo da carreira.
No drama intitulado Bobby Deer-field, de 1977, o ator protagonizou um piloto de Fórmula 1 ao volante do Brabham BT45, cujas cenas de corrida foram representadas com o piloto brasileiro José Carlos Pace ao volante.
A infeliz coincidência é que, além de o carro ser problemático, o companheiro de equipe de Al Pacino morre em um acidente, ao o que, na vida real, o Moco também morre em um trágico acidente de avião de pequeno porte, no início de 1977, após ter participado apenas dos três primeiros GPs daquele ano.

Na sequência da temporada de 1977, o piloto alemão Hans-Joachim Stuck assumiu o posto de piloto do carro número 8 no lugar do brasileiro. O alemão Rolf Stommelen e o italiano Giorgio Francia também pilotaram o BT45, em poucas oportunidades, como pilotos suplentes.
Após um início de ano conturbado com a perda do seu principal piloto, o engenheiro Gordon Murray realizou algumas alterações sobre a versão original e apresentou o Brabham BT45B para seguir no Mundial de Fórmula 1 de 1977. O BT45B era, essencialmente, o mesmo carro, construído sobre o mesmo chassi, equipado com o mesmo motor Alfa Romeo doze-cilindros, com alguns ajustes na caixa de câmbio, na suspensão dianteira e o mais significativo, as entradas de ar laterais para melhorar o arrefecimento do motor e minimizar as falhas mecânicas.
Apesar das melhorias, a nova versão do BT45 também não atingiu o desempenho esperado. Contudo, a conquista de dois segundos lugares foi suficiente para garantir pontos importantes, levando a Brabham da nona posição de 1976 para o quinto lugar no Mundial de Construtores de 1977.
Foram construídos seis chassis do modelo Brabham BT45, que foi rebatizado como BT45B, e desses apenas três ainda existem. O chassi BT45/1, apresentado nas fotografias, participou de 21 GPs nas temporadas de 1976 e 1977, inclusive no Grande Prêmio Brasil de 1976, sendo pilotado por José Carlos Pace. Atualmente, este carro encontra-se em exposição no Museu da Alfa Romeo, em Milão, na Itália.

O chassi BT45/2 participou de apenas seis corridas e faz parte de uma coleção particular na Itália. O chassi BT45/3 integra a coleção do bilionário austríaco Mark Mateschitz, herdeiro da Red Bull, recém-adquirida junto com outros 68 carros que pertenciam ao ex-dono da F1, o inglês Bernie Ecclestone, por 500 milhões de libras, cerca de R$ 3,8 bilhões de reais.
Já o chassi BT45/4 foi perdido durante o Grande Prêmio da Áustria de 1976, assim como o BT45/5, que foi destruído no GP da Itália de 1977. O chassi BT45/6 foi adaptado para ser utilizado nas primeiras corridas de 1978, junto a dois novos chassis, que foram construídos.
A Brabham iniciou o ano de 1978 com um chassi remanescente de 1977 e mais dois novos chassis utilizados em um “modelo de transição” batizado de BT45C, que participou das duas primeiras etapas apenas, antes de ser substituído por um modelo totalmente novo. Para garantir o sucesso do “revolucionário” Brabham BT46, a equipe inglesa contratou o então campeão mundial de 1977, o austríaco Niki Lauda, que, ao lado de seu companheiro de equipe, o inglês John Watson, e uma pequena participação do brasileiro Nelson Piquet, levaram a Brabham à terceira colocação no Mundial de Construtores, de 1978.
A saga da Brabham ao longo dos anos 1970, que culminou com o triunfo do piloto brasileiro Nelson Piquet no início dos anos 1980, teve origem nas experiências de José Carlos Pace e seus companheiros ao volante do BT45 e dos outros modelos que o sucederam. Embora o desempenho nas pistas não tenha sido suficiente para deixar um grande legado na Fórmula 1, pelo menos as cenas de Moco pilotando o Brabham BT45 estão eternizadas na história do cinema como verdadeiros astros de Hollywood.